Vai muito além da defasagem nas habilidades cognitivas, ainda que nelas interfira, o principal problema constatado pelas diretoras e professoras das escolas do Fund 1 que apoiamos, a partir do retorno das atividades presenciais. Em visitas que temos feito e a partir dos relatos de diretoras, professoras e coordenadoras  fica claro que a maior dificuldade está sendo a reinserção das crianças no ambiente escolar, depois dos dois anos praticamente inteiros em que as escolas estiveram fechadas.  

Crianças que ficaram tempo demais longe das salas de aula se juntam a outras que sequer experimentaram as aulas presenciais: um aluno que, em 2020, começava o 1o ano, marco inicial do processo de alfabetização, chega agora ao 3o sem praticamente ter pegado em livros ou tido contato com os colegas.  

Mesmo aqueles que desfrutaram ao menos por um ano do ambiente escolar, e agora estão no 4o ano, mostram o impacto do afastamento da escola: têm dificuldades de retomar alguma rotina de estudo e, até, de se integrar uns com os outros.  

Este tempo de desafios se reflete até na hora do recreio. Os alunos correm a esmo, sozinhos, sem formar grupos, e muitos demonstram uma agressividade incomum. Para fazer frente a estes novos desafios, professoras desenvolvem com eles atividades que baixem, aos poucos, o “termostato”, para que as crianças voltem à sala um pouco mais calmos e aptos a participar do processo de aprendizagem. 

Estes e outros temas foram objeto de conversas durante a Semana de Educação Socioemocional, promovida pela Secretaria Municipal de Educação do Rio, por meio de webinários e de atividades nas escolas.  

Coordenadora pedagógica da Parceiros, Leda Fonseca conta que as recentes capacitações que promovemos para professores e coordenadores pedagógicos das escolas que apoiamos reforçaram o papel que a literatura pode desempenhar nesta retomada.  

Personagens com os quais os alunos se identifiquem podem lhes transmitir a importância da troca de experiências, do exercício da empatia, de se colocarem no lugar uns dos outros.  

Certo é que, ainda por um tempo, os esforços terão de se dividir entre a busca pela reinserção das crianças ao cotidiano escolar e o processo de aprendizagem propriamente dito.  

Mesmo que por linhas tortas, a pandemia deixa claro que as habilidades cognitivas e as socioemocionais devem andar sempre juntas, e que a harmonia entre elas produzirá alunos cada vez mais preparados para a vida.